
quem lhe conta o peso da caixa?
ele sonha-lhe o ar primaveril
alguma seiva transbordante de hortelã desmaiada
faz disso um chá que lhe fortalece o olhar
continua a olhá-la num deslumbre crescente
percorre uma a uma suas finas arestas de cartão
depois os ouvidos vertem nos olhos um rumor
e agora pesa cada palavra na boca de quem diz
sem se aperceber das gomas sortidas que essa saliva
indiferentemente contradiz, mede-lhe os tiques
articula o boato rasando a caixa
sendo cada vez maior o desejo de lhe tocar
quer-lhe passar os dedos, cortá-los
na ânsia longitudinal de querer abri-la
e descobrir as muitas franjas de ar posto
sonha-lhe pesos indiscretos, índias empacotadas
senta-se no chão cruzando as pernas
lambe outra perspectiva
move frescas águas dentro dos olhos
como que à espera que ela o fite
ajoelha-se e quadrúpede ensombra-lhe a quadratura
pinga saliva na planície da caixa, mancha-a
e logo retrai com vergonha de lhe ter desferido desonra
acabrunha-se por um momento
até que a mola venosa encha de vermelho os olhos
que o catapultarão ao golpe de misericórdia
então ele pega na caixa, sacode-a violentamente
amarrota-lhe os lados, esbate-os com os punhos fechados
esquece-se de ouvi-la em profundo silêncio
inebriado pelo suor de renúncias e talismãs inquisitórios
pára, respira ofegante – abre a caixa e é engolido