sábado, 16 de fevereiro de 2008

POEMA ENCAIXOTADO



















quem lhe conta o peso da caixa?

ele sonha-lhe o ar primaveril
alguma seiva transbordante de hortelã desmaiada
faz disso um chá que lhe fortalece o olhar
continua a olhá-la num deslumbre crescente
percorre uma a uma suas finas arestas de cartão

depois os ouvidos vertem nos olhos um rumor
e agora pesa cada palavra na boca de quem diz
sem se aperceber das gomas sortidas que essa saliva
indiferentemente contradiz, mede-lhe os tiques
articula o boato rasando a caixa
sendo cada vez maior o desejo de lhe tocar

quer-lhe passar os dedos, cortá-los
na ânsia longitudinal de querer abri-la
e descobrir as muitas franjas de ar posto

sonha-lhe pesos indiscretos, índias empacotadas
senta-se no chão cruzando as pernas
lambe outra perspectiva
move frescas águas dentro dos olhos
como que à espera que ela o fite

ajoelha-se e quadrúpede ensombra-lhe a quadratura
pinga saliva na planície da caixa, mancha-a
e logo retrai com vergonha de lhe ter desferido desonra
acabrunha-se por um momento
até que a mola venosa encha de vermelho os olhos
que o catapultarão ao golpe de misericórdia

então ele pega na caixa, sacode-a violentamente
amarrota-lhe os lados, esbate-os com os punhos fechados
esquece-se de ouvi-la em profundo silêncio
inebriado pelo suor de renúncias e talismãs inquisitórios

pára, respira ofegante – abre a caixa e é engolido

9 comentários:

Isabel Victor disse...

poema.fagia

...



(a caixa de Pandora, Por.fírio ?)


iv *

pn disse...

abism(ad)o...

Isabel Victor disse...

E ... amo Al. Berto . Obrig pelo comentário ...

iv*

isabel mendes ferreira disse...

:)

eu.


levo a caixa.

a tua.

porque nela se contém o segredo.

que dedilhas. de olhos resgados.

de alma sem renúncia.


_________________

eu.

levo-a.

no coração.


e juro que a guardo.

.


beijo.

liso.

po(br)esía disse...

Sr! Me temo que lo que me gusta tanto de su poesía no sea sino un cuarto de lo que debiera gustarme, por la barrera idiomática que se nos interpone. Que, mejor decir, se me parapeta. Yo manejo el portugués bastante, pero hay cosas de la poesía que obliga a pensar en portugués, sentir la musicalidad del idioma, más que a defenderse solamente con él.
¿No me haría una edición bilingüe?

un abrazo así de grande, y gracias por su comentario en mi blog!

s | p

Gabriela Rocha Martins disse...

um tudo
nada

do m[u]ito

labirintíco

da caixa

o volteio
o abandono

o meu

ponto
de
fuga


para a frente


.
um beijo

carlos veríssimo disse...

surpreso

martim de gouveia e sousa disse...

intenso corrimento... abrç.

Gabriela Rocha Martins disse...

venho barafustar.... já que andamos em marés de indignação!!!!

que se passa com esta porcaria da blogger que há três dias que não consigo publicar um única imagem?

tu consegues?

vou entrar em furite aguda
vou ficar raivosa
vou bufar feita touro enraivecido !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

que m----!


e agora que já desabafei ,vou manifestar.me noutra freguesia



.
um beijo