segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

LÁGRIMAS UMBILICAIS

[Rui Rodrigues]

dentro de momentos virá a boa sirene inquietar os corações das pequenas criaturas. O ESPAÇO. os seios da SERENÍSSIMA MÃE pingam na bainha do tempo que o PAI DA FOME limita em louvor de OFÉLIA.

louca sirene, diz-me quem irá enxugar as lágrimas ao SOLUÇANTE FAROL das pequenas praias, esse menino uivante no raiar da escadaria; diz-me SENHORA MADRE UMBILICAL tantos filhos como gemidos e como magoa este torpor MADRE SOROR! venha o espaço num balbucio dissolver o que de nós sobejou, dor e mais dor a fervilhar em bica, ó MADRE DOLOR que me escutas: de nós sobejou o enigma, o umbigo a roçar a noção de lugar.
GÓLGOTA ardente ● GÓLGOTA morrente

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

SONETO DO OPERÁRIO VINDIMADOR



sombras chinesas ● vou beber

não importuno o cálice
– ele descansa na mesa
de pés moles

num dos muitos combros deixei esquecido
um cacho de uvas gordo

um copo de culpa ● vazio

porque vagueiam perdidas na parede
estas duas
máscaras de outono
livres de maleita no dúbio escuro
perdidas duas vagas sem sono?

à dupla passagem entre as sombras, minha sede
cairá a seringa no súbito despegar dos lábios

sombras chinesas ● vou rever vindimas