sábado, 7 de março de 2009

PSICOCLAUSTROFONIA (VII)

[Wassily Kandinsky, 1925]



um alfabeto de saliva escorre para um mar inconfessável
[um beijo demorado]
nebulosas encabeçam ruínas de corpos
letras feridas nos membros em sobressalto

ângulo azul
: pregadas à frieza dos acontecimentos
as mãos suam
embevecidas no volante
tão terrenas que irrepreensíveis estrangulam a estrada

água a pecar na renúncia
página a página, a culpa e a traição:
esgrima entre as duas faces
[espelhos]
outras duas faces
choros repetidos
borrão nos rostos
– pneus a pisarem o traço contínuo
[a paixão]
uma condução perigosa

à distância um esgar delicado, oca feição da água
adentro uma amálgama febricitante de impressões
relâmpagos cínicos
ou
ilegibilidade das bocas
haverá quem encadeie soluços, sobras líquidas da memória
brindando a uma maresia citadina
e a salvo
os últimos fragmentos irredutíveis da precipitação
espermatozóides electrocutados na vulva
sempiternamente suspensos na matriz coloidal
: um crânio estéril

vivências estrondeiam quilómetro a quilómetro
e a maresia é desmascarada
ascendem à consciência os prejuízos
intenso encontro com a circe poluente
– unhas aguçadas lavram a pele
toda a fisionomia chora como uma ilha
adiando a colisão no aquário
remorso

ainda de dor uns olhos transfigurados
[fonte carnívora]
cobram esperma e sangue, último almoço

4 comentários:

Heduardo Kiesse disse...

palavras fortes de sentir!!

abraços

isabel mendes ferreira disse...

demorado o sentir que assim resvala.


fogo entre o fogo maior.


na serena e pessoalíssima figuraçao de uma escrita CARnÍVORA!


tão tua!



.


beijo Al(imenso)

JOSÉ RIBEIRO MARTO disse...

A Imagem é bem bonita , e tão bem acompanha esta viagem ou estas viagens densas que escreves !
Abraço , Poeta !
____________ JRMARTo

Gabriela Rocha Martins disse...

condução
perigosa
mas
absoluta
mente
necessária
neste
belíssimo
poema
em
contra.mão



.
um beijo ,amigão