sábado, 24 de janeiro de 2009

PSICOCLAUSTROFONIA (I)

[Francis Bacon, 1978]


espreitar o universo e vê-lo obscuro
intensamente desfocado: os habitantes dos planetas

defecam atmosferas de gás, gritam pequenez
cada um vê-se como um asteróide negro desabitado
– o processo de desertificação é interior
e fruto do olho humano

ângulo vermelho:
entra a rainha do submundo
uma labareda de cabelos ruivos
um vestido de pólipos folhosos e fumegantes
[rubro contra púrpura]
momentos antes da prédica no púlpito do sacrário venal

intensifica-se o desfile, o crepitar da coroa
– a assembleia inicia a descompressão da pepita
alguma poeira cósmica, dialectos absurdos

ângulo intersectado – a linha fúnebre, bastarda
a luz azul, um rosto frio

visão de cima: um palácio de tijolo sanguíneo
velado por mutantes da palavra obscura
suplício dos guerreiros infelizes

no interior
em câmara resguardada de festejos mundanos
e diálogos triviais
a laranja velha repousa no luxuoso caixão do mundo
seus horrendos poros tossem vermes gordos
embriões da desgraça, outrora vísceras em papa
lembrança da perpendicularidade
a todos os olhos nua
fria
e inalterável

comecemos então
o novíssimo estratagema da criação: células
prestes a asfixiarem
num quarto de vidro gravemente embaciado
– vapor de melaço
saído das entranhas do cientista

escapando à anatomia do vergonhoso cérebro
rasga-se
com a maior unha do corpo
o útero do pensamento mais escondido
dito recalcado – espera-se muco
e algum sangue podre

esporadicamente a ciência visita o campo da adivinhação
– quando o cientista, um pouco bruxo, aguça a lente
para destrinçar emaranhados colossais da massa a analisar
entra num fino véu
mesclado de nácar e fel
consumando-se o milagre das sete abóbadas

contentem-se os artesãos da ciência
com aspectos elementares da laranja morta
velha rainha
pois nunca desvendarão trilhos que
alguma vez
os cavalos do ácido traçaram

4 comentários:

hora tardia disse...

desculpa meu muito querido Al, mas eu,,,eu sim é que me sacio em rétorica ímpAR da tua voz.

ÚNICA!!!!!!!


como tu ninguém para adivinhar a arte de uma poética ENORME!


.

o que eu gosto (é pouco gostar) do que escreves.


e como ainda (ainda bem) me surpreende o teu verbar!!!!!


invulgar TALENTO!



sempre tua leitora...até que a vida me deixe.


beijos, meu Querido.

hora tardia disse...

rasga-se
com a maior unha do corpo
o útero do pensamento mais escondido
dito recalcado – espera-se muco
"e algum sangue podre

esporadicamente a ciência visita o campo da adivinhação
– quando o cientista, um pouco bruxo, aguça a lente
para destrinçar emaranhados colossais da massa a analisar
entra num fino véu
mesclado de nácar e fel
consumando-se o milagre das sete abóbadas..........."


nunca ninguém antes assim!!!!!!



oh deuses....

Isabel Victor disse...

Invulgar (cito a voz autorizada IMF)

oh deuses ...

arrepia. tem esplendor.



deixo um beijo. mil



iv

Gabriela Rocha Martins disse...

não sou capaz de ser objectiva

face ao poetar do AMIGO
que a guardo
na outra margem da POESIA

a brevidade e terna de


.
um beijo