sábado, 23 de maio de 2009





























[imagem de Jean Harp]

domingo, 17 de maio de 2009









[Escultura-objecto de Mário Cesariny]

sexta-feira, 1 de maio de 2009



a rosa é para ti, Isa
por amamentares as flores
que dão cor aos meus olhos
– roubei-a ao Dalí



[Salvador Dalí, 1958]

sábado, 25 de abril de 2009



[Carlos Calvet, 1964]

sábado, 4 de abril de 2009


sábado, 21 de março de 2009

PSICOCLAUSTROFONIA (IX e último)

[Paul Klee, 1930]



a biologia conserva o segredo insondável
[nuvens densamente armadilhadas]
o líquido espesso que ressalva o erro, a vida
no planeta que a amnésia sustenta
mãos atadas, adesivo na boca, narinas irritadas
e ainda a surdez indissolúvel, a cegueira impermeável
– a memória dum povo em contínuo reset

ângulo branco
: meninos a brincar
chutam a orelha há pouco atirada aos cães
pelas suas zelosas mães

triste infinitamente triste
o poderio podre dos senhores da guerra
a mama seca
verdade sobre o azul, asfixia do ouro
em plástico doentio
«ah, a baioneta»
fica sempre bem com a farda
«guerra é coragem, honra e bravura»
suor e ranho para limpar no lado b da bandeira nacional
«ah, o soldado desconhecido
ainda a apanhar frio nalguma rotunda»
carne para canhão
«mas um canhão come carne?»
sim, e da boa
ouvi dizer na corola machucada dum sonho
em que vi bailar no campo de batalha
a baioneta vestida de noiva; dançava com os órfãos
e com as viúvas
dentro de momentos virá a boa sirene inquietar os corações
os seios da sereníssima mãe pingam na bainha do tempo
– lágrimas umbilicais

a carta mais triste do mundo, última canção
: louca sirene
diz-me quem enxugará as lágrimas
ao soluçante farol das pequenas praias
esse menino uivante no raiar da escadaria
diz-me senhora mãe
tantos filhos como gemidos
e como magoa este torpor
madre soror
venha o espaço num balbucio dissolver o que de nós sobejou
dor e mais dor a fervilhar em bica
ó madre dolor que me escutas
de nós sobejou o enigma, o umbigo a roçar
a noção de lugar – esta gólgota ardente
esta gólgota morrente

sábado, 14 de março de 2009

PSICOCLAUSTROFONIA (VIII)




mergulho aprumado, a heroicidade
branca inocência em não justificar diademas do sacrifício
em não perfilhar as várias transmutações da carne
no intuito de mais tarde dissecá-las
em ângulos gordos a emurchecerem
à passagem do brilho indeciso do ponteiro

ângulo púrpura
: a arena
lar de afectos animalescos
recinto do mais trabalhado instinto
onde irrompe um fulgor de sangue em transição
que borbota do carvão ancestral
e tilinta fome

submissos ao pulsar da areia amarelada
os amantes ocupam hesitantes os seus lugares
um mirabolante tabuleiro de xadrez
[chamariz sexual]
um jogo de regras quebradas

colunas frágeis conexas à miríade de poros
nevroticamente tensas
estudam no mapa epidérmico a cíclica migração dos fluidos
sombras que ameaçam subterfúgios protegidos

os amantes aprenderam a burlar a púrpura condescendente
emanada da carga mitológica que alumia a história
passado reforçado por arestas de exausta verosimilitude

na arena
[expansível palco da libido]
hienas escarvam enlouquecidas pelo amor
encenam sete minutos de sucção
sublimando expoentes limítrofes da carne
planeiam ao pormenor
a geometria única de lanhos infligidos à jugular

assim o desespero das criaturas
o mais alto sacrifício na desonra da dignidade
mescladas as várias tonalidades do sangue
que elas ainda não compreendem

ao de leve o vento na areia manchada
brisa dúbia da sentimentalidade
turbilhão de tubos ao redor da cama no subterfúgio
covil à mercê da união mordaz de cateteres
corpo trémulo ciente da sua cumplicidade negra
em abjecta armadilha

ao espectador
desdobra-se sanguinário o origami poligonal
porque o medo escurece a carnalidade
e os infames amantes acabam por se desencontrarem
nos corredores