domingo, 26 de outubro de 2008

ELOGIO À TURBULÊNCIA


as horas serpentiformes pesam na herança do caruncho bebedor
flashes libidinosos a inflamarem o círculo que contráctil
demora a disseminação cancerígena de palpitações petrolíferas

[o sifão escondido na espinhenta areia]

amadurecem os sons no armário enxuto
ouro possível na frágil desidratação da memória
mal-empregado metal se no borrão encontrasse o seu cofre
assim o gatafunhar da vida
pois as alforrecas ainda se movimentam por estas bandas
espampanantes de bar em bar no imenso reduto
[o que quer que isso seja]
à procura dum acender perto da gota a trabalhar
como objectiva circunstancial
da vastidão


como é bem-vinda esta turbulência de estilos no armário
retorna o mar ao mistério da concepção
indubitavelmente azul em todos os seus tecidos
em todas as faces imprevisíveis da solitária gota

e nisto
..........................a fenda
.......................................................a fricção

e nisto
..........................a fractura
.......................................................a ondulação

tristes os peixes na penúria oxidativa
na vagabundagem programática do pensamento
porque não se conformam com a recente ordem de despejo
decretada por um sósia de neptuno
obcessivamente lunático
[entre as marés que o afligem]
determinado em aplicar a louca mas estrutural ideia
de povoar os oceanos
com cavacos

esta turbulência não dá azo à arquitectura ou explicação
fica-se pela gratuidade das escamas
um senso emergente da fúria pela vermelhidão dos aspectos
crendo amadurecer massas gravitacionais comunicantes
contra o castigo do vácuo mudo

[gestação: o grande silêncio]

uma carraça a explorar os nós
– feieza
que de minúscula
se torna bela


há um humor cáustico a revitalizar a vista
uma praga na vitrina giratória
doença decerto, não a escolhi
arrasta
comichão manifesta na irresponsabilidade dos braços
intróito comestível pela benevolência craniana
posse inconfessa de irreversível atrocidade

no olhar pequenino
enfim, há bondade
partilhar uma técnica na arte maior
que é beijar

e na periferia dos nós a carraça prossegue com a sua labuta
escarafuncha um equilíbrio que estremece um outro
não a escolhi, no entanto
sublima-se a vontade de renegar a sensibilidade
vontade de desatar os fios às cegas
cortá-los até, de flagrante
em última estância


um homem medita e é porca a sua insubordinação à tarde
com flagrante desordem copulada no espelho
calcorreia a espuma amarelecida do mar
sob a guarda do alcatraz, pobre druida

ele avista a pena na quadrangulação da duna
apanha-a e empunha-a como arma branca
[luz dada para o voo]
vê o mar como velho proxeneta que se masturba a seus pés
– hilariante isto de tão subcutâneo húmus: amolecer

o belo ramalhete de esporângios

cabisbaixo o homem olha para o chão com medo do satélite
é a alma desta turbulência sem preliminares
é o armário esquecido num qualquer canto do planeta
é-lhe reservada a podridão dos víveres
entrelaçados num som ainda não audível
e o mar à volta
a sua nostalgia longínqua
abjecta aos peixes negligenciados
também eles a braços com a pouca sorte

há sempre a promessa de se construir uma estufa
onde se modele o grito
para que caiba em qualquer faringe do ecossistema
[imenso reduto]
uma chave-mestra para o futuro

4 comentários:

isabel mendes ferreira disse...

eu morro a cada momento em que te leio.



sagrado.


.


nunca me canso.


.


adoro-te!!!!!

isabel mendes ferreira disse...

promessa?


Tu és!!!!!


eu pasmo.

eu beijo.te.

Gabriela Rocha Martins disse...

uma absoluta necessidade de te ler

cada vez

MAIS


.
um beijo

casa de passe disse...

que dizer numa casa como a sua?
com a languidez desta música que me arrasa.

Mas, venha até à nossa Casa!

talvez a turbulência lhe sirva de abssinto

Loulou