terça-feira, 18 de novembro de 2008

UM PÉ NO PAPEL






















[Painting, Francis Bacon, 1978]



sob a hora translúcida
no ar um dia
a flor revelará a animalidade do sonho
nos seus órgãos, na sua escabrosa essência
amedrontando o ser de espuma
a fugir da saliva

uma nuvem amarela nesta hora o ar intacto
ar que o pânico meridional enrijeceu
avesso aos brônquios duma manhã crepuscular
uma nuvem como longa-metragem ionizada

se um homem decide clarificar a sangria do sol
experimentando visões do grande incêndio
sabe à partida que deverá amar o escuro
e libertar-se nele incondicionalmente

«uma floresta resplandecente sobre o cinzeiro»

ao vê-la desdobra-se na ascensão rápida da ideia
músculo do sonho e corola da flor
também o fumo se criva pelo crepúsculo

um pé no papel ● a página pelos joelhos

designa «floresta» o que vê este homem
de vento os gestos e o porquê das mãos
experimenta o exílio gasoso da palavra
o pé soluça e verbaliza a vontade
o corpo cai e instrumentaliza o sonho

porque a palavra trará nova seiva
e essa seiva invadirá velhas raízes
porque essas raízes irrigarão outras vontades
que se acenderão no mesmo bolbo

ele veste o silêncio ● a flor abre-se no escuro

4 comentários:

isabel mendes ferreira disse...

Sabes Porfírio meu Al de Tudo?

em ti recupero a força.

és a Flor.

a mais Pura.


o meu orgulho....(menino).



ler-te refaz-me.


sério.

muito a sério.


beijo-te.

Gabriela Rocha Martins disse...

( este miúda consegue levar.me a primazia em TUDO )

todavia

reservo.TE

um
dulcíssimo



.
beijo

isabel mendes ferreira disse...

ih ih ih....

(isto é para a Gab...querida)



bom dia meu Arcanjo....

Gabriela Rocha Martins disse...

ser em

POESIA

maiores

[os dois]



.
um beijo