sábado, 31 de janeiro de 2009

PSICOCLAUSTROFONIA (II)

[George Grosz, 1917-1918]

ponto a ponto o espaço é desvendado pelo clarão
aquilo que é iluminado e curvo
porque a luz resguarda órbitas fenomenais
e os corpos alcançam significados pelo toque da iluminação
unos e tremendamente sós – no santuário
as velas choram um leite puro
quente, inocentemente amamentam
os seres que se movimentam na escuridão

ângulo verde:
o baile funesto de saprófitas, crescente miséria dos povos
ejaculação política num colorido envenenado

terreno inóspito, sem dúvida, e anda o indivíduo
a treinar as mãos na saca de grãos vinda do desespero
pobre coitado – ainda se aleija no veneno

o pão que a sociedade reveste de cívico no falar humano
cheio de pústulas e de magnetismo perturbador
simboliza a sucessão ininterrupta de blocos
imprevisíveis no âmago
mas capazes de gerarem um buraco negro
e criarem a falsa ilusão de consumarem nobre ofício:
o de esculpirem identidades

procura e oferta, hierarquias no esvair da matéria
e um amor de cinza acabado
nuns lábios por arder

somente um incorruptível prodígio na visão da criança
num êxtase raro
e talvez irrepetível na sua vida:

uma família numerosa reunida à mesa
empenhada a comer frutos secos no epílogo da consoada:
nozes, amêndoas, avelãs
mandíbulas, maxilares, dentes
ranger de cascas
o ruir dos tecidos
vultos compenetrados
a música orgânica
ritual de dentro
– o silêncio do arvoredo linguístico

3 comentários:

isabel mendes ferreira disse...

a tua "língua" Al é uma densa floresta.




que a sabedoria desbrava para melhor SER.




em ti me encontro. e desfaço.


e abraço-te.


pelo tanto que és.

Gabriela Rocha Martins disse...

danço nas tuas palavras e não passo de uma bailarina calhandra

porque tu ,MAESTRO

dignifica.las sob a tua batuta



.
um beijo

Gabriela Rocha Martins disse...

acaso já te disse

que TE necessito para recordar

o sol?


sódade
( na voz de Cesária )



.
um beijo