
quarta-feira, 7 de janeiro de 2009
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
LÁGRIMAS UMBILICAIS
dentro de momentos virá a boa sirene inquietar os corações das pequenas criaturas. O ESPAÇO. os seios da SERENÍSSIMA MÃE pingam na bainha do tempo que o PAI DA FOME limita em louvor de OFÉLIA.
louca sirene, diz-me quem irá enxugar as lágrimas ao SOLUÇANTE FAROL das pequenas praias, esse menino uivante no raiar da escadaria; diz-me SENHORA MADRE UMBILICAL tantos filhos como gemidos e como magoa este torpor MADRE SOROR! venha o espaço num balbucio dissolver o que de nós sobejou, dor e mais dor a fervilhar em bica, ó MADRE DOLOR que me escutas: de nós sobejou o enigma, o umbigo a roçar a noção de lugar.
GÓLGOTA ardente ● GÓLGOTA morrente
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
SONETO DO OPERÁRIO VINDIMADOR

sombras chinesas ● vou beber
não importuno o cálice
– ele descansa na mesa
de pés moles
num dos muitos combros deixei esquecido
um cacho de uvas gordo
um copo de culpa ● vazio
porque vagueiam perdidas na parede
estas duas máscaras de outono
livres de maleita no dúbio escuro
perdidas duas vagas sem sono?
à dupla passagem entre as sombras, minha sede
cairá a seringa no súbito despegar dos lábios
sombras chinesas ● vou rever vindimas
não importuno o cálice
– ele descansa na mesa
de pés moles
num dos muitos combros deixei esquecido
um cacho de uvas gordo
um copo de culpa ● vazio
porque vagueiam perdidas na parede
estas duas máscaras de outono
livres de maleita no dúbio escuro
perdidas duas vagas sem sono?
à dupla passagem entre as sombras, minha sede
cairá a seringa no súbito despegar dos lábios
sombras chinesas ● vou rever vindimas
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
FEBRE TIPÓIDE

alguém anda enganado neste mundo
tipo eu ou um outro talvez não sei
sinto-me mal tipo vou-me embora
apanhem-me as sandálias e por favor
mergulhem as bolachas no leite fresco
e dêem-nas ao gatinho a miar desalmadamente
perdido da mãe tipo na extremidade do carril
agora percebo o brilho da madeira no livro
viajar tipo correr as páginas até à exaustão
e miar feito gato à espera das bolachas
com medo dos cães tipo polícias do futuro
alguém enganado? todos tipo humanidade inteira
agora compreendo céline e a sua inquietação
azedume tipo ácido sulfúrico aspergido
venham julgar-me neste estado debilitado
estou doente tipo quarenta e dois graus de febre
tipo eu ou um outro talvez não sei
sinto-me mal tipo vou-me embora
apanhem-me as sandálias e por favor
mergulhem as bolachas no leite fresco
e dêem-nas ao gatinho a miar desalmadamente
perdido da mãe tipo na extremidade do carril
agora percebo o brilho da madeira no livro
viajar tipo correr as páginas até à exaustão
e miar feito gato à espera das bolachas
com medo dos cães tipo polícias do futuro
alguém enganado? todos tipo humanidade inteira
agora compreendo céline e a sua inquietação
azedume tipo ácido sulfúrico aspergido
venham julgar-me neste estado debilitado
estou doente tipo quarenta e dois graus de febre
terça-feira, 18 de novembro de 2008
UM PÉ NO PAPEL
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[Painting, Francis Bacon, 1978]
sob a hora translúcida
no ar um dia
a flor revelará a animalidade do sonho
nos seus órgãos, na sua escabrosa essência
amedrontando o ser de espuma
a fugir da saliva
uma nuvem amarela nesta hora o ar intacto
ar que o pânico meridional enrijeceu
avesso aos brônquios duma manhã crepuscular
uma nuvem como longa-metragem ionizada
se um homem decide clarificar a sangria do sol
experimentando visões do grande incêndio
sabe à partida que deverá amar o escuro
e libertar-se nele incondicionalmente
«uma floresta resplandecente sobre o cinzeiro»
ao vê-la desdobra-se na ascensão rápida da ideia
músculo do sonho e corola da flor
também o fumo se criva pelo crepúsculo
um pé no papel ● a página pelos joelhos
designa «floresta» o que vê este homem
de vento os gestos e o porquê das mãos
experimenta o exílio gasoso da palavra
o pé soluça e verbaliza a vontade
o corpo cai e instrumentaliza o sonho
porque a palavra trará nova seiva
e essa seiva invadirá velhas raízes
porque essas raízes irrigarão outras vontades
que se acenderão no mesmo bolbo
ele veste o silêncio ● a flor abre-se no escuro
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