quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Fiama Hasse Pais Brandão



EPÍSTOLA PARA OS MEUS MEDOS

Sois: os sons roucos, a espera vã, uma perdida imagem.
O coração suspende o seu hálito e os lábios tremem
sinto-vos, vindes ao rés da terra, como ventos baixos,
poisais no peitoril. Sois muito antigos e jovens,
da infância em que por vós chorava encostada a um rosto.
Que saudade eu tenho, ó escuridão no poço,
ó rastejar de víboras nos caniços, ó vespa
que, como eu, degustaste o figo úbere.
Depois, mundo maior foi a presença e a ausência,
a alegria e as dores de outros que não eu.
E um dia, no alto da catedral de Gaudí,
chorei de horror da Queda, como os caídos anjos.

in Epístolas e Memorandos, Relógio d'Água, 1996

3 comentários:

Frioleiras disse...

belíssimo............

isabel mendes ferreira disse...

é preciso foi preciso conhece-la para sentir como é verdade o antigo saber de alguém tão ímpar.



beijo-te.
Al detentor de palavras inusitadas.

Gabriela Rocha Martins disse...

senhor de senhoras

ímpares

escolhidas a cada dedo de cada mão

príncipe das PALAVRAS

eu te


.
beijo